O cinema popular da Índia consolidou-se como um dos sistemas cinematográficos mais produtivos do mundo, articulando entretenimento de massa, identidade cultural e valores morais compartilhados. Nesse período, a cidade de Mumbai tornou-se o principal polo de produção, dando origem ao modelo posteriormente conhecido como Bollywood, caracterizado pela fusão entre melodrama, música, dança e narrativas de forte apelo emocional.
Do ponto de vista industrial, o cinema indiano estruturou-se em um sistema verticalizado de estúdios, estrelas e gêneros recorrentes. Registros do National Film Archive of India (NFAI) indicam que, já no final dos anos 1940, o país produzia centenas de longas-metragens por ano, distribuídos em um vasto circuito interno, marcado pela diversidade linguística e regional. Essa escala permitiu a consolidação de um público fiel e de convenções narrativas facilmente reconhecíveis.
A linguagem cinematográfica do cinema popular indiano desse período baseava-se em narrativas morais universais, conflitos familiares, sacrifício individual e redenção. A música não funcionava como elemento acessório, mas como eixo estrutural do relato, integrando canções à progressão dramática. Filmes como Mãe Índia (Mehboob Khan, 1957) tornaram-se paradigmas desse modelo, combinando espetáculo, emoção e comentário social, além de obter reconhecimento internacional, incluindo indicação ao Oscar de Filme Estrangeiro.
Para além do cinema de grande apelo popular, desenvolveu-se o chamado cinema paralelo indiano, orientado por uma estética mais contida e por preocupações sociais diretas. O principal nome dessa vertente foi Satyajit Ray, cuja estreia em longa-metragem com A Canção da Estrada(1955) projetou o cinema indiano no circuito internacional de festivais. O filme recebeu prêmios em Cannes e tornou-se referência por seu naturalismo, uso de atores não profissionais e atenção ao cotidiano rural (BFI; MoMA).
Todavia, há divergências quanto à separação rígida entre cinema popular e cinema paralelo. Alguns estudiosos defendem que ambos compartilham raízes culturais comuns, diferindo sobretudo nas estratégias de linguagem e circulação; outros os tratam como campos estéticos distintos, voltados a públicos e circuitos específicos. Ainda assim, o consenso é que as décadas de 1940 e 1950 estabeleceram as bases industriais e narrativas que definiriam o cinema indiano ao longo do século XX.
Referências
National Film Archive of India (NFAI) – Indian Cinema History
https://www.nfaipune.gov.in
British Film Institute (BFI) – Indian Popular Cinema
https://www.bfi.org.uk/features/indian-popular-cinema
Museum of Modern Art (MoMA) – Satyajit Ray Collection
https://www.moma.org/artists/4825
Ray, Satyajit. Our Films, Their Films
https://www.penguinrandomhouse.com
Ganti, Tejaswini. Bollywood: A Guidebook to Popular Hindi Cinema
https://www.routledge.com