A montagem soviética consolidou-se como um dos movimentos mais influentes da história do cinema ao longo da década de 1920, articulando uma concepção radical de linguagem cinematográfica baseada no choque entre planos. Diferente da tradição narrativa contínua herdada do teatro e do romance, o cinema soviético propôs que o sentido não residia no plano isolado, mas na relação entre imagens sucessivas, capazes de produzir ideias, emoções e posicionamentos políticos no espectador.
O desenvolvimento dessa abordagem ocorreu em um contexto de reorganização cultural e educacional do audiovisual, com forte investimento estatal em escolas de cinema, como o VGIK (Instituto Estatal de Cinematografia), fundado em 1919. Dados históricos apontam que, mesmo com limitações técnicas e escassez de película, a produção soviética da década de 1920 alcançou ampla circulação internacional por meio de cineclubes, mostras e circuitos alternativos, especialmente na Europa Ocidental.
No plano estético, a teoria da montagem foi sistematizada por cineastas-teóricos como Serguei Eisenstein, Vsevolod Pudovkin e Dziga Vertov. Eisenstein formulou a ideia de montagem de atrações, em que o conflito visual entre planos gera significado intelectual, como exemplificado em O Encouraçado Potemkin (1925). Pudovkin, por sua vez, defendia uma montagem mais construtiva e emocional, visível em A Mãe (1926), enquanto Vertov radicalizou a proposta ao rejeitar a ficção tradicional em favor do cinema-documento, como em Um Homem com uma Câmera (1929) (MoMA).
A circulação internacional dessas obras foi decisiva para sua consagração histórica. O Encouraçado Potemkin figurou repetidamente em listas de melhores filmes de todos os tempos e foi objeto de censura e debate crítico em diversos países, justamente por seu impacto formal e político. Embora os sistemas de premiação ainda fossem incipientes, o reconhecimento institucional posterior é amplo, com cópias preservadas por arquivos como o BFI National Archive e o Museum of Modern Art.
Em relação ao estilo, há divergências quanto à unidade do movimento. Parte da crítica entende a montagem soviética como um corpo teórico coeso; outros autores enfatizam suas diferenças internas, sobretudo entre a vertente intelectual de Eisenstein e o realismo observacional de Vertov (Bordwell). Ainda assim, o legado do movimento é constante: sua influência atravessa o cinema moderno, a publicidade, o videoclipe e o audiovisual contemporâneo, consolidando a montagem como eixo central da construção de sentido no cinema.
Referências
British Film Institute (BFI) – Soviet Montage
https://www.bfi.org.uk/features/soviet-montage
Museum of Modern Art (MoMA) – Dziga Vertov Collection
https://www.moma.org/artists/6238
Eisenstein, Sergei. Film Form: Essays in Film Theory
https://www.bfi.org.uk/education-research/bfi-research/film-form
Pudovkin, Vsevolod. Film Technique and Film Acting
https://www.berghahnbooks.com/title/PudovkinFilm
Bordwell, David. The Cinema of Eisenstein
https://www.routledge.com/The-Cinema-of-Eisenstein/Bordwell/p/book/9780415007782